Continue a nadar

BeFunky-photo                           Visita monitorada da FMUSP, realizada no dia 10/06/2018

O tempo nos desafia a continuar ou largar tudo e buscar a “felicidade” em algo mais imediato. Somos desafiados diariamente a continuar ou abandonar a rotina e dormir, curtir algo mais agradável, conversar com amigos no WhatsApp, ou qualquer coisa que nos livre da enfadante rotina de estudos em ano de vestibular.
Existem algumas formas de evitar que infindáveis subterfúgios tirem nosso foco no ano mais importante das nossas vidas. Sei que algumas pessoas repudiam essa ideia de evidenciar um ano como decisivo, compactando toda uma complexa existência e largando-a ao relendo dos “leões” feitos de papel e tinta. Entretanto, o vestibular é cruel. Não descobri isso brincando de vestibulando ou “tirando selfies estudando”, como já me acusaram... Descobri arriscando anos da minha vida, cruciais, e que não voltam mais; algumas realidades se derreteram, ficaram no passado… Mas, sobrou a que tenta alertar quem está perdido: o vestibular não quer saber se você está em paz consigo, ou angustiado com os paradoxos existenciais que surgem ao longo do ano nesse conflito incessante consigo; sua finalidade é apenas selecionar friamente aqueles que percebem como funciona esse filtro de personalidades, não necessariamente escolhendo os potenciais melhores profissionais, mas, somente optando por características que venham a manter a reputação de determinada instituição. Hoje algumas delas (não todas!) até se preocupam com a humanização, inclusão, e outros termos similares que estão em voga, a fim de continuar fazendo o mesmo supracitado: a reputação é o que mantém o jogo apaixonante do capitalismo; formar profissionais para o mercado e não prioritariamente para a vida. Mas, deixando essa acidez para outra oportunidade… Vamos conversar um pouco 😉

Sobre experiências que tive da última visita monitorada em que fui…

Semana passada (10/06/2018) fui na visita monitorada da FMUSP. Compareço nesta visita anual desde 2014. Contudo, a cada ano tenho um aprendizado diferente. Sei que muitos aqui já viram o título “continue a nadar” no filme “Procurando Nemo”. Entretanto, apesar da frase enigmática, ela ganhou um significado especial para mim nessa visita (espero que seja minha última como vestibulando). Vou justificar…
Vocês já pensaram em desistir em algum momento, acredito eu. Às vezes passamos a vida correndo atrás de respostas que estão latentes suplicando uma única reflexão. Passei esses anos todos buscando métodos, aperfeiçoamentos, achando que estava falhando em não conseguir achar meu defeito, ou que o problema era a minha “acomodação” como já li – desse jeito mesmo – de um leitor menos informadoEm algum momento falarei sobre como foi minha preparação, como superei inúmeras dificuldades, sejam as defasagens que eu trouxe de um Ensino Médio de Rede Pública Estadual. Não estranhe como enfatizei isso. É que ainda no século XXI, existe gente que acredita em meritocracia, sem atentar-se aos nichos sociais, por isso fui enfático. Também direi das dificuldades financeiras e por na maioria das vezes em que estudei, desde meu colégio, ter precisado trabalhar para ajudar em casa. Existe gente que relativiza sua trajetória, sem ao menos entender seu contexto social, porque só consegue enxergar o mundo pela sua minúscula perspectiva, sem nenhuma empatia. Não culpo estas, a vida é diferente para cada um que lê esse blog. E não vou falar disso agora, haverá o momento certo.
Todavia, retomando ao cerne… Essa frase significou muito nessa vez. Porque às vezes nessa loucura de correr atrás de resultados, não nos damos conta de que para atingir nosso objetivo, só precisamos continuar nadando; encontrando soluções na experiência experimentada. Não estranhe essa combinação! Um dos estudantes de Medicina disse que às vezes nada fazia sentido para ele. E parecia que estava correndo em círculos, isso o angustiava. Mas, essa simples frase que cultivou ao longo do ano em que passou, com efeito, o fez manter-se firme até nos momentos de maior instabilidade. A frase “continue a nadar” fazia com que ele parasse de pensar em como cumprir suas metas… E agisse. Enquanto ele continuava nadando sem pensar que deveria isso, ou aquilo. Ele estava caminhando gradualmente de encontro com sua realização. O importante é não parar!
É difícil essa nossa vida, gente. Por isso que quando leio o depoimento de vocês dizendo que estão esgotados, que não conseguem mais fazer nada com o mesmo vigor, que pensam até em dar um tempo, em especial aqueles que estão há alguns anos. Eu sei o que vocês estão dizendo. Eu sinto isso na pele. É difícil continuar animado depois de tantas reprovações, após ver as pessoas se realizando, passando, terminando a faculdade… E a nossa vida parecer estar estagnada. Mas, só precisamos continuar. E não olhar para o lado… Nadar ininterruptamente, até o momento em que chegarmos em nossa margem. Só precisamos seguir nossa trilha, sem pensar que deveríamos estar estudando mais, ou menos, ou melhor… O importante é continuar caminhando e extraindo o máximo que pudermos de nós mesmos, respeitando nossa humanidade, sem deixar de lutar. Só precisamos nos manter vivos. Vida requer movimento. Então… Continuem nadando!